“A comunicação social e a democracia são indissociáveis e têm uma relação de dependência muito forte”

Encontro Nacional 15-16 Março 2025

Maria Inácia Rezola (historiadora e Comissária Executiva para as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril): “A comunicação social e a democracia são indissociáveis e têm uma relação de dependência muito forte”

Decorreu, nos dias 15 e 16 de março, no Centro de Juventude de Braga, o Encontro Nacional de Imprensa Local e Regional, Impressa e Digital, que debateu temas como ‘A contribuição para a construção do Portugal democrático’ e ‘A revitalização e sustentabilidade’. Estiveram presentes cerca de 200 representantes da imprensa local e regional, vindos de todos os distritos de Portugal Continental e da Região Autónoma dos Açores.

Maria Inácia Rezola, historiadora e Comissária Executiva para as Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, foi uma das oradoras do ‘Painel da responsabilidade da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril’.

 

Fique aqui com algumas das declarações da oradora:

A comunicação social durante o regime ditatorial e vitalidade da imprensa local e regional:

[10:30–10:42]

«Podemos dizer que já existe um conjunto muito interessante e muito importante de estudos sobre imprensa, há poucas coisas sobre imprensa regional e local, é uma pena, são estudos que ainda têm que vir a ser feitos, mas temos já um conjunto alargado de estudos e autores de muito crédito que analisaram um dos elementos centrais da história deste período, que é o papel da censura, vendo quais eram os seus mecanismos, a sua ação, os seus agentes e, por outro lado, um conjunto de autores que analisaram a relação entre a comunicação social e o poder, que vai ter um sentido diferente, inevitavelmente, durante a ditadura e depois durante a fase de início da construção da democracia portuguesa.»

[11:42–11:52] [12:45–12:50]

«[É de sublinhar a] grande vitalidade e a grande riqueza da comunicação social e, sobretudo, da imprensa, quando foi instaurada a ditadura militar, em 1926. Temos mais de 400 publicações, de periodicidade muito irregular, mas sabemos que destas 400 publicações havia 41 diários muito fortes, muito atuantes e muito lidos. Obviamente a macrocefalia de Lisboa já então se sentia, não é só hoje. Outro aspeto muito importante era a influência que alguns diários tinham: é perceptível que ‘O Primeiro de Janeiro’ conseguia fazer toda a cobertura a norte de Coimbra, o ‘Diário de Notícias’, na região do centro-litoral e no sul, e depois 'O Século’ tinha uma projeção muito maior, porquê? Porque se vendia sobretudo através da assinatura e tinha uma presença nacional muito forte. Conseguimos também perceber que existia uma imprensa diária de província com grande vitalidade.»

[20:02–20:18]

«É evidente que temos heróicos exemplos de resistência a este sistema [ditatorial]. Dois exemplos: o ‘Jornal do Fundão’ e o ‘Notícias da Amadora’ foram duas das principais vítimas da censura. Esta resistência da imprensa regional foi de tal forma importante que num relatório, de dezembro de 1968, o balanço que os serviços de censura faziam era que já não tinham capacidade para controlar a imprensa regional. Ou seja, quer os mecanismos de censura possibilitavam que muita imprensa regional publicasse, passando por cima dos serviços de censura, quer os serviços de censura não tinham sistemas para, de facto, gerir a cada vez mais agitada e mais influente imprensa regional.»

 

O papel da comunicação social na instauração da democracia:

[02:44–03:03] [04:03–04:24]

«Em menos de 24 horas, um grupo de jovens capitães puseram fim à mais longa ditadura da Europa Ocidental. Esta operação ficou conhecida como a Operação Viragem Histórica. Sabemos que os órgãos de comunicação social eram peças centrais no que estava previsto em termos militares e sabemos também que foi através da comunicação social e, em concreto através da rádio, que foi transmitida a primeira mensagem que apresentava à população portuguesa o que é que afinal estava em curso. Nós não nos podemos esquecer que poucos meses antes do 25 de Abril se tinha dado o célebre golpe Pinochet, o tipo de intervenção dos militares na vida política, ou seja, um conjunto de generais tinha levado a cabo um golpe de Estado para instaurar uma ditadura. O que se passou em Portugal foi bem diferente e como vos dizia, a comunicação social foi uma peça central no processo desde o início. Na sua primeira comunicação ao país, que foi lida por Joaquim Furtado, por volta das quatro e meia da manhã, o movimento dos capitães apelava a que a população ficasse em suas casas aguardando o desenrolar dos acontecimentos.»

[26:26–26:40] [29:03–29:04]

«A liberdade de imprensa não foi conquistada com a lei que a determinou. A liberdade de imprensa foi conquistada no próprio dia 25 de Abril, quando jornais como ‘O República’ foram publicados sem passar ao crivo da censura. A percepção de que era, de facto, uma viragem de página que estava a acontecer, foi soldada pela imprensa, quer nacional, quer regional. É impressionante o amplo e imediato acolhimento que o 25 de Abril teve em toda a imprensa. Nós sabemos que a imprensa, a imprensa escrita, era uma peça central na comunicação social à época, no período de 74 e 75. O que nós percebemos neste período de 74-75 é que, mais que o seu papel tradicional, a comunicação social foi um ator participante no processo revolucionário e na construção da democracia.»

 

O que representa o 25 de Abril, hoje:

[06:12–06:28] [07:22–07:39]

«O que aconteceu este ano foi particularmente inédito. Nós sabemos que só em Lisboa se calcula que mais de 200 mil pessoas, um número que para Portugal é enorme, é gigantesco, se quiseram envolver e participaram nas celebrações dos 50 anos do 25 de Abril. Como já há algum tempo disse José Medeiros Ferreira, este será provavelmente, o 25 de Abril, um dos poucos acontecimentos a que rapidamente todos os portugueses associamos a imagens, músicas, o Grandola Vila Morena, a figuras como Salgueiro Maia, a símbolos como o cravo. É dos poucos acontecimentos que, desde 1977, é celebrado em sessão solene na Assembleia da República e que nas ruas, como vimos, continua a mobilizar centenas de pessoas, de todas as idades e tendências políticas. Como disse o José Medeiros Ferreira, de facto o 25 de Abril continua a assinalar uma era.»

 

MARIA INÁCIA REZOLA - https://drive.google.com/drive/folders/1ULgJc1twAE_wfkxKEbTeM2zfRzXIJK4q?usp=sharing

 

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