«A democracia nunca precisou tanto da imprensa local e regional como agora»

Encontro Nacional 15-16 Março 2025

Eduardo Costa (Presidente da Direção da ANIR): «A democracia nunca precisou tanto da imprensa local e regional como agora»

 

Decorreu, nos dias 15 e 16 de março, no Centro de Juventude de Braga, o Encontro Nacional de Imprensa Local e Regional, Impressa e Digital, que debateu temas como ‘A contribuição para a construção do Portugal democrático’ e ‘A revitalização e sustentabilidade’. Estiveram presentes cerca de 200 representantes da imprensa local e regional, vindos de todos os distritos de Portugal Continental e da Região Autónoma dos Açores.

Eduardo Costa, o presidente da Direção da ANIR e diretor do Correio de Azeméis, foi o segundo orador do evento, no dia 15 de março. O presidente discursou acerca da importância da imprensa local e regional para a vida democrática, a necessidade de combater o deserto noticioso que afeta muitos dos concelhos a nível nacional e sobre o imperativo da união entre a classe profissional.

Fique com algumas das declarações do presidente da Direção da ANIR:

 

A importância da imprensa local e regional para a democracia:

«A democracia nunca precisou tanto de nós como agora. Sempre fomos muito importantes para a democracia, mas neste momento somos mais importantes do que nunca, porque estamos num mundo de desinformação, de fake news. Isto é quase, diria, uma batalha entre a desinformação e as fake news e a imprensa, que tem código, que tem ética, que tem valores, que respeita a liberdade de imprensa, que respeita os códigos e a Lei de Imprensa. A democracia vai ganhar e vai ganhar com o nosso apoio e a nossa ajuda, vai ganhar com todos nós, das nossas terras, a lutar pela verdadeira informação, a lutar para que os cidadãos percebam a verdade das coisas, ouvindo as partes.»

«Somos a voz dos que não têm voz. Compete-nos levar a verdade e os factos aos cidadãos. Atrás de um computador e de perfis falsos muita coisa se diz e as pessoas têm que perceber isso. As pessoas têm que perceber que têm de olhar para a informação que é feita em jornais, com títulos credíveis, e sujeita a códigos de honra e a um estatuto editorial. Temos, felizmente, uma entidade reguladora que também nos controla e gostamos desse controlo. Temos um grande laço umbilical e de ligação às terras, que nos respeitam muito e também começam a perceber isso. Vamos ganhar esta guerra pela democracia, de certeza absoluta.»

«Nós [imprensa local e regional] damos as notícias que ninguém pode dar. Nós vamos ao fim da rua. Não há jornal nenhum neste país, nem no mundo, que vá ao fundo da rua para dar as notícias que nós damos, referentes ao endereço dos nossos cidadãos. É isto que nos torna indispensáveis: sermos a voz dos que não têm voz; sermos a informação correta, plural, isenta e independente que chega aos cidadãos.»

«Não podemos baixar os braços, porque a nossa causa é justa e nobre, e por ser justa e nobre é que não podemos baixar os braços. A democracia, a liberdade de imprensa, o direito de informar e de ser informado, temos que o garantir. Nós temos essa responsabilidade e é uma grande responsabilidade. Não podemos desistir dela, não temos sequer o direito de desistir dela.»

 

Jornalismo enquanto serviço público e o combate ao deserto de notícias:

«O serviço público que prestamos é inestimável, mas nós estamos muito preocupados. Já temos mais de 60 concelhos que não têm um único órgão de informação credível, nem mesmo digital. Temos mais de metade do país, sobretudo no interior, já sem jornal impresso, segundo estudos da própria ERC, em que o hábito de leitura digital ainda não existe e demorará muito tempo a chegar, e é onde mais jornais faltam. As pessoas ficaram sem acesso à informação, sem acesso à informação da sua rua, das coisas que lhes dizem a respeito. No Correio de Azeméis temos agora um slogan: ‘Você conhece as notícias do mundo e não conhece as da sua terra?’ Portanto, é isto que precisamos. As notícias do mundo conhecemos, porque as televisões enchem-nos dessas notícias, mas não conhecemos as notícias da nossa terra e temos de conhecê-las. Esse é o nosso trabalho, essa é a nossa importância.»

 

A importância de uma imprensa local e regional sustentável:

«Aquilo que temos dito é que temos de ter capacidade para defender as nossas propostas. Nós merecemos mais do que sobreviver, mas muitos de nós não têm sobrevivido. Como dizia o Presidente da República há tempos: ‘Cada vez que morre um jornal local, morre um bocado do país’. E nós vemos jornais a morrer todos os dias. Não deve haver dia nenhum em que não me pedem, na ANIR, para falar com este ou com aquele jornal, desanimado, triste, que vai morrer. Escrevem-nos a dizer isto: ‘Façam alguma coisa’. Tento dizer-lhes para não baixarem os braços, para não atirarem a toalha ao chão, porque nós vamos conseguir.»

«Vemos muitos jornais a morrer todos os dias e isto deixa-nos preocupadíssimos. Não queremos apenas sobreviver, queremos ser sustentáveis. Nós temos capacidade para ter futuro. Nós temos uma coisa extraordinária nas nossas terras: uma ligação forte e umbilical às nossas comunidades.»

 

Objetivos a olhar para o futuro:

«Existem cerca de 180 conselhos que não têm jornal e nós temos como objetivo, até 2030, conseguir recuperar, pelo menos, metade destes concelhos, para que voltem a ter jornal. Andámos no interior a falar com organizações e cada vez que há um jornal que vai desaparecer, vamos falar com ele e ver se há soluções.»

 

É preciso assumir responsabilidades pela situação atual:

«Nós chegámos a uma situação frágil, responsabilidade de muitos governos. Passaram 25 anos, um quarto século, desde a última vez que fizeram alguma coisa por nós. Nós fomos resistentes para chegarmos aqui, com muita paixão, dureza e dedicação, saídas do corpo e da alma. Mas, caros companheiros, é fácil culpar os governos. O que é que fizemos nós? Pouco ou nada. Estivemos unidos estes anos todos? Não. Soubemos unir-nos a defender as nossas causas? Não. Os governantes, quando olham para nós, olham-nos como um rebanho desmalhado, que não se une. Por isso, fico muito feliz por ter uma sala de 170 pessoas que se inscreveram para estar aqui, porque sabem que os projetos que estavam em causa não vão chegar ao fim, pelo menos com este Governo. Para nós, a ideia de acreditarem em nós, começa por nós próprios acreditarmos em nós. Temos que fazer sentir àqueles que não acreditam em nós, que nós acreditamos em nós.»

 

A importância da ANIR:

«O Sr. Ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, teve uma videoconferência connosco [ANIR], conseguiu arranjar meia hora do seu tempo, e disse-nos que quando chegou ao Governo não compreendia a imprensa local e regional. Foi connosco, com a ANIR e, naturalmente, também com outros colegas, que aprendeu o que era a imprensa local regional.»

«Neste momento, temos 207 sócios [na ANIR] com quotas regularizadas. Isto mostra que estamos a começar a ficar unidos, mostra que estamos a começar a perceber que temos de estar defendidos na mesma causa.»

 

EDUARDO COSTA - https://drive.google.com/drive/folders/1g3aqWFoc8mq3DD0blkybFronmV8RJzmy?usp=sharing

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